sábado, 13 de janeiro de 2024

O Zé

José Nabais era mirrado, quase esquelético, tinha cabelo preto e olhos castanhos.Sapateiro de profissão, tanto fazia sócos, sandálias como botas.Só não fazia sapatos porque era outra arte.Cosia bem e cardeava melhor do que qualquer outro sapateiro da região.Era mais chegado a umas borgas do que ao trabalho que era pouco porque a aldeia onde vivia tinha pouca gente e de poucas posses. Mas, lá ia ganhando para o seu sustento e ainda sobrava para umas borguitas.Gostava da farra e uns copitos deixavam-no feliz. Aos vinte anos, a contra gosto de António, seu futuro sogro, começou a namorar Maria Alice, rapariga bonita, de boa família e bons atributos. Com algum tempo de namoro, o pai da rapariga era radicalmente contra essa união. Mas, não teve jeito. A coisa andou e o casamento estava cada vez mais próximo. Numa tarde de domingo, num encontro marcado no palheiro da família, Maria Alice não aguentou a libido e lá perdeu a donzeleria em cima de um molho de palha. Passado algum tempo marcaram o casamento a muito contra gosto de António. Foi uma festa simples.O padre Gregório os abençoou e ainda teve uns comes e bebes. Com oito messes de casados e já com a barriga estufada, esperava o primeiro filho, Maria Alice já tinha um cesto repleto de casaquinhos, chambres, calças,cuadas e outras coisas que lhe fariam falta para aninhar o rebento que chegaria em pouco tempo. O Zé Nabais lá ia fazendo alguma coisa para sustento seu e da famíla, sem nunca perder o hábito dos copos e da farra. Maria Alice, além dos afazeres domésticos, ainda tinha tempo de ser criada do padre da aldeia, homem baixo,  gordo,careca, atrevido e usava óculos com lentes tão grossas que pareciam fundos de garrafa.Um dia, resolveu tocá-la mas ela o repeliu com tanta força que ele bateu com a cabeça no lançador abrindo um lanho que mais parecia um corgo. Depois de mudar umas dez vezes de morada e já com quatro filhos, entregue à vida, aos copos e à desgraça, Zé Nabais abandonou a família e desapareceu. Passado algum tempo, desesperada, Maria Alice pediu abrigo ao seu tio Augusto, homem bom e justo. Este, acolheu-a naturalmente ao ver a desgraça da sua sobrinha querida, cheia de precisão e mãe de quatro filhos.Continuava Maria Alice a ser criada do padre e ajudava o tio na pouca lavoura que ainda tinha. João, de dez anos, filho de Alice, já era era criado de um lavrador abastado da aldeia para ajudar no sustento dos irmão mais novos. E assim foi por largo tempo. A certa altura apareceu Zé Nabais, arrependido e a dizer que tinha mudado, que a partir dali tudo seria diferente. queria voltar para sua família. O tio Augusto que ouvira a conversa foi logo dizendo: Vai embora trapalhão, bêbedo, traquina, irresponsável e o chamou de todos os nomes feios que lhe vieram à memória.Disse-lhe mais o tio Augusto: Alice agora é minha filha e os teus filhos são meus netos. Vai embora, some da nossa vida. Envergonhado e sem outra alternativa, Zé Nabais, virou-se e foi embora estarrecido. Chorava muito.Era o fim. No caminho da volta, ao passar perto duns camponeses que segavam a messe pediu um bancelho. Continuou a caminhada. De repente,fez um laço, pendurou-se numa carvalha e enforcou-se. Nunca uma morte por enforcamento demorou tão pouco. Quando chegou a notícia de tão triste ato, António, o pai de Alice, logo foi dizendo que já tinha ido tarde, o tio Augusto que não se perdeu nada, Alice choramingou e os filhos não mostraram compaixão. Só os amigos da farra e da bebedeira é que lamentaram o sucedido.

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