segunda-feira, 27 de maio de 2024
Prefeito
Manuel Serapião era órfão. Filho de José e de Maria da Anunciação, falecidos num acidente aéreo nos Andes.Foi criado e educado pela tia Maria do Patrocínio, irmã de seu pai. Era um homem forte, grande e dono de um nariz adunco que lhe segurava os óculos de aros redondos e de lentes grossas. Era dono também de antebraços colossais que impunham medo e respeito a seus opositores. Na política, filiou-se ao partido "Vanguarda" e logo disputou e venceu as eleições para prefeito da cidade Melgaro, situada no nordeste da Belíndia. Governou a ferro e fogo. Arranjou, como não podia deixar de ser,poucos amigos e inimigos aos montes.Depois de dois mandatos, Melgaro era um burgo pobre, sujo e miserável. Poucos habitantes tinham o suficiente para viver com dignidade. Havia, é claro, alguns nababos,. que por acaso eram íntimos do prefeito Manuel Serapião.Os poucos ricos eram donos de tudo. Aos pobres restava obediência.Empregos públicos eram entregues aos filhos ou parentes dos bajuladores do mandatário municipal.Os vereadores municipais, todos doutores, seguiam firmemente as diretrizes do prefeito. Era proibido dizer não. Geralmente, a cada inquisição de senhor prefeito, os nobres vereadores, uns com diploma tirado, outros com ele comprado, nunca davam uma resposta oral. O normal era o aceno com a cabeça.Eram todos doutores! Nas reuniões da Assembleia Municipal, a oposição era esculachada e defenestrada pelos deputados do regime ou pelo senhor Manuel Serapião.O senhor Prefeito nunca se esquecia de lembrar aos munícipes que fora eleito por maioria dos residentes e não residentes, embora se soubesse que os não residentes eram maioria. Estes, no dia das eleições, chegavam ao burgo para exercer o direito cívico do voto, de autocarro, de avião ou a cavalo.Assim, Manuel Serapião reinava absoluto. No entanto, o pequeno burgo definhava, empobrecia. Havia mais cães na rua do que pessoas. O desânimo dos residentes já inquietava o prefeito. As saudações ao mandatário diminuiram, o descontentamento era geral.O terceiro mandato a que aspirava o senhor Manuel Serapião corria perigo. Um dilema apoderou-se da consciência do edil: devia ou não devia candidatar-se a um novo mandato? Candidatou- se e venceu. A meio de terceiro mandato teve de renunciar porque a polícia lhe bateu à porta.
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