Era um domingo gordo. Os rapazes Armando, o Tonho, o Cândido e o adulto Zé que não funcionava bem da cachimónia, foram guardar o gado para um baldio lá para os lados do Ourigo. Ao chegarem ao referido lugar o Zé alapou- se à beira dum rego de água que corria por ali. Tirou os sócos, estendeu- se e em pouco tempo já roncava como um porco. Os outros rapazes começaram uma conversa sobre varios temas, mas as mentiras eram tantas que desistiram e foram jogar à chóca , jogo que eles faziam com maestria. Depois de umas três ou quatro horas, resolveram mandar a merenda para a pança. Acenderam o lume ali bem perto onde dormia o Zé. Tiraram das sacas as chouriças, um naco de presunto e bastante pão. O Zé continuava num sono profundo. Então, o Cândido, para o acordar,meteu- lhe uma brasa acesa debaixo dum pé e o marmanjo despertou. Ficou furioso, desconfiou que foi o Cândido, que era mais conhecido como bispo, que fez tal maldade mas não disse nada. Calou- se. Todos de barriga cheia, ao bispo corria- lhe pelos cantos da boca a gordura do chamusco que haviam feito, o Zé mandou para barriga metade dum pão centeio e um palaio inteiro, mandou cá um peido que deixou todos os outros furiosos. O Cândido pegou um sarrafo e mandou uma cocada na cabeça do desgraçado que lhe abriu um lanho que mais parecia um corgo de sangue. O Armando, muito compadecido, acudiu ao infeliz . Lavou- lhe a cabeça no rego de água que corria ao lado, atou- lhe um lenço à cabeça pensando num curativo que aliviasse o pobre coitado. Curativo feito, o Armando repreendeu com veemência a atitude do bispo. Este não gostou e ripostou: atão tu não te lembras daquele dia que lhe ataste as mãos atrás das costas com um baraço, prendeste- lhe as duas pernas com um bancelho, puseste- o a cavalo do burro e este mandou- se pelo caminho abaixo, ele caiu em cima duma “ laija “esmoucou a cachola, esfolou as pernas e os braços e tu disseste ao nosso pai que tinha sido eu? Lembras- te? Toma lá.
A noite aproximava- se e era chegada a hora do regresso a casa. Aqui chegados, o velho pai viu a maldade feita ao Zé e tirou satisfações. Logo o Armando entregou o bispo. O pai foi- se a ele e deu- lhe uma coça bem dada. Não satisfeito, o bispo virou- se para o pai e disse: pai, lembras- te daquele dia que lhe deste umas estadulhadas no lombo, bem ali no meio do lameiro, quebraste- lhe uma costela, caiu ao chão e continuavas a bater nele como quem batia numa pedra? Mesmo assim ainda lhe puseste um molho de lenha às costas para levar até à Bila.! O Tonho, constrangido, pensou lá para com ele: depois deste tratamento admito que o Zé é mais rígido do que um penedo. E assim acabou aquele domingo gordo.
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